Fazia muito tempo que um velho Mestre vasculhava um enorme descampado. Novos e velhos sempre tinham visto por ali aquela figura que descansava as mãos numa bengala e, sobre elas, deitava o queixo. Os olhos fitavam o solo procurando o que todos consideravam um mistério.
Todos o viam e ninguém ousava perguntar-lhe o que tinha perdido ou procurava. Até que um jovem se chegou a ele e perguntou:
- Mestre? Que procuras desde sempre por aqui?
- Algo que perdi faz muito tempo - respondeu o Mestre.
- Posso ajudar-te na busca?
- Claro que podes! Porque não?- retorquiu o Mestre.
E o Mestre, de queixo na bengala, mais o jovem, de cócoras, lá ficaram procurando, procurando.
Pela meia-noite o jovem despediu-se enquanto o Mestre continuou a sua busca, noite fria adentro. O jovem regressou ao descampado na manhã seguinte. Já lá estava o velho Mestre, absorto na sua tarefa. Ao chegar perto, disse-lhe o jovem:
- Mestre? Procurei ontem contigo o que perdeste. Mas não sabia o que procurava. Assim, como posso ajudar-te? Diz-me o que procuras afinal.
- Perdi uma agulha. Procuro-a desde que a deixei de ver - disse o velho sem levantar os olhos do chão. Sabendo então o que procurava, também o jovem deixou cair os olhos no descampado. E assim ficaram os dois como no dia anterior, de olhos fitando o chão, cada um à sua maneira. Pela meia-noite o jovem despediu-se, enquanto o Mestre continuou a sua busca. Na manhã seguinte, mais cedo que no dia anterior, o jovem regressou. O Mestre já lá estava, como sempre.
- Mestre? -disse o jovem - Será que me podes dizer o sítio aproximado onde perdeste a agulha? Não pensas que seria mais fácil começar a procurar por lá?
Ao que o Mestre respondeu:
- Perdi a agulha dentro de casa.
O jovem sobressaltou-se e retorquiu:
- Mas mestre? Se a perdeste dentro de casa por que a procuras na rua? Neste descampado?
O velho Mestre olhou-o nos olhos, sorriu e perguntou:
- Não procuram todos a Felicidade fora de si?
. Perto
. Frágil