Pianinho do Sapo lançou-me um desafio (ou será excomunhão?), suponho eu que por vingança na pessoa errada. E eu, que não gosto de virar a cara a desafios, excomunhões ou vinganças, apresso-me a responder. Quebrarei no entanto a corrente e ficarei à espera que, por não ter passado a palavra a outros no tempo devido, me desabem em cima as desgraças do costume. Posto isto, adiante.
Qual o tamanho total dos arquivos de música no meu computador?
Tal como a Pianinho do Sapo não faço a menor ideia. Mas que são muitos, lá isso são. De qualquer forma costumo guardar só aquelas harmonias que me levam direitinho ao céu.
Qual o último disco que comprei?
Um CD de canções sefraditas, cantadas por Fortuna Safdié (brasileira de nascimento). O título do CD é " La prima vez ". Se puderem oiçam e depois digam-me.
Que canção estou a escutar neste momento?
Estou a responder a este questionário depois do envio de um poema para o meu amigo Vítor Leal de Barros (amigo do ciberespaço), para que ele o coloque n"O Povo é Bom tipo" (link à direita, nos favoritos) O poema que acabo de lhe enviar é sobre a música e fi-lo, em tempos, enquanto ouvia Carlos Seixas - "Laudamos te" - Missa a 4 em sol menor /faixa 5 - Segréis de Lisboa - Coral Lisboa Cantat. Coloquei a faixa 5 do CD para reler o poema. Oiço neste momento as faixas restantes.
Músicas que escuto um montão de vezes e que têm um significado especial para mim:
Não tenho propriamente músicas especiais. Sou muito dado à dita Clássica e também à Étnica. O Jazz também me toca. Quanto ao resto, tenho pena que já não se oiça tanta música de origem francesa como dantes. Continuo fã de J.Brel, L. Ferré, S. Regiani, e tantos outros, Da música portuguesa gosto Sérgio Godinho, Zeca Afonso, Fausto, Luís Cilia.
Quebro aqui a corrente. Não sei se devo aguardar, por isso, desgraças ou bênçãos.
Seja o que tiver de ser!
Fazia muito tempo que um velho Mestre vasculhava um enorme descampado. Novos e velhos sempre tinham visto por ali aquela figura que descansava as mãos numa bengala e, sobre elas, deitava o queixo. Os olhos fitavam o solo procurando o que todos consideravam um mistério.
Todos o viam e ninguém ousava perguntar-lhe o que tinha perdido ou procurava. Até que um jovem se chegou a ele e perguntou:
- Mestre? Que procuras desde sempre por aqui?
- Algo que perdi faz muito tempo - respondeu o Mestre.
- Posso ajudar-te na busca?
- Claro que podes! Porque não?- retorquiu o Mestre.
E o Mestre, de queixo na bengala, mais o jovem, de cócoras, lá ficaram procurando, procurando.
Pela meia-noite o jovem despediu-se enquanto o Mestre continuou a sua busca, noite fria adentro. O jovem regressou ao descampado na manhã seguinte. Já lá estava o velho Mestre, absorto na sua tarefa. Ao chegar perto, disse-lhe o jovem:
- Mestre? Procurei ontem contigo o que perdeste. Mas não sabia o que procurava. Assim, como posso ajudar-te? Diz-me o que procuras afinal.
- Perdi uma agulha. Procuro-a desde que a deixei de ver - disse o velho sem levantar os olhos do chão. Sabendo então o que procurava, também o jovem deixou cair os olhos no descampado. E assim ficaram os dois como no dia anterior, de olhos fitando o chão, cada um à sua maneira. Pela meia-noite o jovem despediu-se, enquanto o Mestre continuou a sua busca. Na manhã seguinte, mais cedo que no dia anterior, o jovem regressou. O Mestre já lá estava, como sempre.
- Mestre? -disse o jovem - Será que me podes dizer o sítio aproximado onde perdeste a agulha? Não pensas que seria mais fácil começar a procurar por lá?
Ao que o Mestre respondeu:
- Perdi a agulha dentro de casa.
O jovem sobressaltou-se e retorquiu:
- Mas mestre? Se a perdeste dentro de casa por que a procuras na rua? Neste descampado?
O velho Mestre olhou-o nos olhos, sorriu e perguntou:
- Não procuram todos a Felicidade fora de si?
. Perto
. Frágil