Quarta-feira, 27 de Julho de 2005
quem me dera longe
no limite
quem me dera partir
para dentro de mim
aqui há tecto
Quinta-feira, 21 de Julho de 2005
um a um e também aos pares
aos trios e quartetos
correm pelo fio que separa o meu sono da noite
um depois do outro conto todos
e cada um dos carneiros do rebanho
eles saltam saltam
às vezes riem
às vezes dançam
e caem de sono sempre antes de mim
também já contei camelos de uma e duas bossas
grãos de areia estrelas e histórias
mais todas as folhas verdes que se podem contar
e todos os peixes do mar
mas não há como os carneiros não
para cuidar das minhas insónias
de verão
Sexta-feira, 15 de Julho de 2005
Rezam os papiros que no antigo Egipto
o poder era siamês da sabedoria.
A vida na terra seria uma projecção da vida celeste
e aos homens competia tudo construir
à imagem do paraíso.
Rezam os papiros do antigo Egipto
Que o Rei era Deus em pessoa.
Mestre dos celeiros, dono de toda a Terra,
de todos os bens e de todas as vidas,
roubar, matar, enganar, era ofendê-lo.
Da sua divina sabedoria brotava uma justiça
em que era sempre juiz em causa própria.
Mas esse é um pormenor de hoje.
Segunda-feira, 11 de Julho de 2005
não me demoro nem canto
nos caminhos da cidade
quando a ternura profunda não cresce
nem floresce o mel nas acácias
amanhã
amanhã falaremos de Amor
mesmo que não me digas
onde está a inocência onde
que não transparece nem fecunda
os corações
(às vítimas de Londres)
Sexta-feira, 8 de Julho de 2005
Quem sabe se a essência da verdade não está
onde todo o desconhecimento se funde?
Lá, onde a primeira causa e o eterno retorno conversam.
Aristóteles e Nitzsche, ambos de joelhos e de lupa na mão,
procurando,
procurando.
Como eu, procurando...
Quarta-feira, 6 de Julho de 2005
enquanto caio nas memórias
uma névoa de sal faz-te orvalho no corpo.
e tu insistes...
entras pelo mar e as ondas,
como dunas,
fragmentam-se contigo ao vento.