Terça-feira, 28 de Março de 2006
misterioso é o tempo
das águas matinais e do sol tardio
misterioso é o tempo de março
insondável o silêncio
em que vivem
no mês de todos os recomeços
calam-se indiferentes
ao que pergunto
ao que respondo
mas pressinto que me sentem
pela sombra rasa de afectos
Terça-feira, 21 de Março de 2006
os meus dias eram todos os mil filhos do Sono
e as minhas horas irrompiam aladas
como o vento irrompeu do odre
enquanto o herói se entregava a Morfeu
não sei qual dos companheiros enxotou o destino
quando desapertou o cordel das ventanias
mas ainda hoje as vejo errarem por direcções imprecisas
sempre contrárias ao sonho genuíno de Ulisses
Domingo, 12 de Março de 2006
aqui
onde o cheiro do alecrim
não chega à resina livre das estevas
sentado no lugar de todas as imperfeições
em março mês dos equinócios que reconheço
tenho a esperança dos amores perfeitos
e quero respirar o perfume dos lírios
a eternidade
aqui
onde cultivo o que não vejo disseram-me
que os meus sonhos existem por minha causa
e que no jardim onde semeio a vontade
os canteiros não são margens de nada
de nada
Quarta-feira, 1 de Março de 2006
é um fio ligeiro
uma linha cristalina que exala calor e espuma
que transparecem no ar
é o feitiço dos rios que em casa me chama
os dedos passam leves
quase escrevem na humidade
assim me dispo
e assim despido entro devagar
e docemente a água me veste