ontem
parei de um lado da rua e vi-me no outro
e de ambos os lados fiquei
na esperança que a esperança caísse
eu sei que nem sempre me vejo assim
de cá e de lá separado pelo mundo
nos dois lados do mundo e separado por ele
sei que nem sempre me reparto como escrevo
porque nem sempre a tinta é negra e o papel assim
porque o preto no branco e o branco no preto
podem ser o caminho das metades
mas não do meio
sento-me à soleira do teu corpo
quieto na vontade
e meigo nas ambições
encosto-me ao berço do tua voz
ao teu peito
de murmúrios tenros
e só eu sei
só eu sei
como adormeço
(Republicação)