Segunda-feira, 28 de Fevereiro de 2005

Lençol de papel

um silvo vibrado com a funda
cai certeiro no sossego do papel

é a solidão do lençol que se parte
quando um poema se aproxima

então basta remar
para que o meu barco se eleve nos ares

que mar já não há aqui que se possa descobrir



(c)Todos os Direitos Reservados Luís Natal-Marques às 01:04
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Sexta-feira, 25 de Fevereiro de 2005

Filosofia de gato



Enroscado na alcofa o gato teve um sobressalto.
Molengão, espetou as orelhas e olhou desconfiado.
Depois de lamber as patas
limpou com elas o focinho,
mais os dez pelos hirsutos do bigode.

Não era nada de cuidados.

Quando os cães ladram
miam os gatos mais assustadiços.
E ele não miou.

Cão que ladra não morde, diria o gato.
E ele não disse.

Gato que mia quer festas, diria cão.
E ele não quis.





(c)Todos os Direitos Reservados Luís Natal-Marques às 23:39
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Terça-feira, 22 de Fevereiro de 2005

Quimera

está maduro agora o menino

que já tivestedormindo ao colo, Senhora.

se esteve quieto e sentado o destino, à sua espera

desde que a juventude nele se esvai e esconde,

é porque os tenros dias são também quimera

que a mais pura das certezas calar não pode.

mas se verde ainda hoje seu corpo fora, mansos e serenos

seus olhos pousariam em tudo o que fosse para eles novidade.

e se muitos são os mistérios da ousadia, dois deles pariste

com teu filho, Senhora, quando com ele deste à Luz

tanta Esperança e Liberdade.


(c)Todos os Direitos Reservados Luís Natal-Marques às 23:39
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Sábado, 19 de Fevereiro de 2005

Tantas coisas




Diz o poeta
que todas as verdades vêm ao mundo
pela mão da sua irmandade...

Diz o poeta
que musicar um poema é pura redundância...

Diz o poeta
que a poesia é inofensiva...

Diz o poeta
que a Liberdade é a sua enxada...

Os poetas dizem
tantas coisas...





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Quarta-feira, 16 de Fevereiro de 2005

Liberdade

quando abrires os olhos
cala bem fundo o teu futuro na multidão
arremessa-o certeiro
porque é nas torrentes o lugar dos que confiam
na existência de um algures absoluto
onde se pressente a Luz
e as palavras se escutam mesmo que ninguém fale

e quando não achares contentamento na pregação das virtudes
quando os sermões por mais exaltados
te fizerem sentir um sossego estranho no corpo e na alma

poderás então gritar a Palavra

e com a mesma incerteza com que amanhã lançarás os dados
terás junto de ti sem que disso dês conta
a evidencia de todas as coisas


(c)Todos os Direitos Reservados Luís Natal-Marques às 10:59
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Domingo, 13 de Fevereiro de 2005

intuição súbita


Como seria bom se o despertar se alcançasse
por uma intuição súbita
e se nos entendêssemos na língua dos pássaros.

Não seríamos sopradores em busca dos mistérios da matéria.
Seriamos talvez toldados pelo delírio divino:
uma canção de roda
corrida e cantada pelas Musas, Apolo, Dioniso e Afrodite.
Assim mesmo, todos eles tu cá, tu lá, em amena cavaqueira
e solfejo muito afinado com Platão.
O mesmo que,
descrevendo Sócrates de pés desnudos e Fedro de sandálias,
nos falou da humildade que deve calçar os mestres
perante a inocência dos discípulos.




(c)Todos os Direitos Reservados Luís Natal-Marques às 02:58
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Quinta-feira, 10 de Fevereiro de 2005

Quem sabe I ?

Quem sabe se no silêncio reside
o mistério do deus Knum,
que de uma roda de oleiro faz surgir toda a água do Nilo,
rio que tudo une.
Margens, céu e leito.

Quem sabe se a pele negra de Anúbis,
chacal devorador de cadáveres decompostos,
não transfigura a palavra no silêncio,
ou na terra pura, o que é o mesmo.


(c)Todos os Direitos Reservados Luís Natal-Marques às 00:12
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Segunda-feira, 7 de Fevereiro de 2005

Orvalhos intemporais ( 4 de 4 )


sei mas não quero saber se há desertos onde nunca chove
a ignorância sempre me fez o sono leve
não terei pés de barro nem frágeis ciúmes porque não vejo
para além dos momentos que exaurimos
e que uns depois dos outros se precipitam estouvados como nós



(c)Todos os Direitos Reservados Luís Natal-Marques às 13:14
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Sábado, 5 de Fevereiro de 2005

Orvalhos intemporais ( 3 de 4 )

em pleno dia se não entro e me encosto à portada
a contraluz deixa-me numa sombra que te encandeia
perguntas por mim e se me calo
insistes insistes sem cuidares que é o meu contorno que ali está
sou eu indistinto aos teus olhos que te observo com exactidão
e presumo o calor do teu colo porque não estás no calor do meu



(c)Todos os Direitos Reservados Luís Natal-Marques às 00:24
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Quinta-feira, 3 de Fevereiro de 2005

Orvalhos intemporais ( 2 de 4 )

converti-me a estes mornos encontros matinais
porque a vida é uma conversão contínua
a tudo quanto quisermos acreditar
creio que o frio quando o tenho se fez só para mim
suporto por isso os obscuros rigores do nevoeiro
e aceito a predestinação nómada dos meus dias
mesmo quando a cada hora não sei da seguinte
sou esperançoso esperança trago eu sempre comigo
quando meço a rotação dos tempos pelas translações lunares
sejam elas novas escuras indiferentes e gélidas
seja a noite cheia de lume e vazia de medos e escuridões.



(c)Todos os Direitos Reservados Luís Natal-Marques às 00:02
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Terça-feira, 1 de Fevereiro de 2005

Orvalhos intemporais ( 1 de 4 )

entre os frutos nocturnos da lua recolho na escuridão a geada
e espero pelo degelo da manhã
gosto de sentir as mãos geladas deitar-me ao teu lado
e aquecê-las lentamente no teu hálito
percebo pelo caldo dos lençóis que não há gelos perpétuos
nem orvalhos intemporais que não escorram
na areia aquecida pela nossa presença



(c)Todos os Direitos Reservados Luís Natal-Marques às 14:33
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