Terça-feira, 29 de Março de 2005
Os equinócios revelam os seus fundamentos
em pilares primitivos, precários e senis.
Ah ! A profusa e pródiga rotação dos tempos
que ora exibe a quadratura perfeita do círculo
ora a linha imaginária de uma volta de ocasião.
Os solstícios estampam labaredas e lumes quentes;
exigem ímpetos, fúrias, cóleras destemperadas.
Ah! A profusa e pródiga rotação dos tempos
que ora exibe a quadratura perfeita do círculo
ora a linha imaginária de uma volta de ocasião.
E tu, Brunilde, amazona feita valquiria,
prisioneira indiferente das chamas ou por elas guardada.
No arrebatamento primaveril das batalhas amorosas
ou quando o cio estival força conquistas firmes,
és paciente e guardas a tua castidade.
Porque são frágeis todas as modernidades.
Ah! A profusa e pródiga rotação dos tempos
que ora exibe a quadratura perfeita do círculo
ora a linha imaginária de uma volta de ocasião.
Sábado, 26 de Março de 2005
trepavas o tempo para colher os frutos
e saltavas agilmente de ramo em ramo
hoje sabes como sentir a seiva das horas
e escutar os seus lamentos e alegrias
mas ficas-te pela terra chã
Terça-feira, 22 de Março de 2005
quem demolha o tempo
não é dono dos relógios
nem manda nos vendavais
quem demolha pétalas
fica-se pela esperança
dos perfumes
quem demolha as cores
pode ser dono das imperfeições da luz
mas nunca de toda a Luz
Sábado, 19 de Março de 2005
não sei se a morte é um sítio
um caminho
estado ou condição
mas que importa
se com ela
se escoa tudo o que é efémero
Terça-feira, 15 de Março de 2005
Fora eu ainda menino
e estaria hoje no doce encanto
de estar à porta do terceiro milénio?
Fora eu ainda menino
e não me encantaria com a lógica dos milénios,
porque os meninos não se encantam
com a filosofia, nem com o feitiço do tempo.
São meninos. Só isso.
Fora eu ainda jovem
e estaria hoje no doce deslumbramento
de estar à porta de um novo século?
Fora eu ainda jovem
e não me deslumbraria com os séculos,
porque os jovens não se deslumbram com dezenas nem centos
e muito menos com as demoras do tempo.
São jovens. Só isso.
Fora eu já velho
e estaria hoje envolto nas afáveis recordações da meninice,
nas suaves travessuras da juventude.
Fora eu já velho e não me fascinaria com milénios nem séculos.
Sortilégio do dia-a-dia.
Só isso.
Sábado, 12 de Março de 2005
Não me falte o silêncio
nem o murmúrio da rotação do mundo
Não me faltem as janelas
nem o rumor da presença
do crepúsculo africano
Não me faltem os traços
inspirados nos riscos da batuta do maestro
e no vigor dos braços do tocador de batuque
Não me falte a vontade
Que não me faltem
Quarta-feira, 9 de Março de 2005
de corpo nu e chegado à Terra
de braços bem abertos em toda a sua extensão
hás-de senti-la carinhosa e quente
na figura de uma doce Mãe
de corpo despido e mente nua
de braços abertos e mãos em concha
hás-de chegar-te ao Mar
quanta pureza salgada de tantos cristais
hás-de recordar a doçura confortável
das águas tépidas de quem outrora te gerou
que diferença te fará então
seres filho da Terra ou da tua Mãe?
Domingo, 6 de Março de 2005
poli as faces
acertei os vértices
alinhei as arestas
desde que fraccionei a pedra em cubos perfeitos
correm os meus dias mais autênticos
Quinta-feira, 3 de Março de 2005
I
pelos caminhos corroídos da fé
há multidões que rumam à cidadela
calcorreiam trilhos que dissimulam o éden
entre os infernos celestes
alameda acima
alameda abaixo
arúspices mundanos carregam usos antigos
erguem os braços
soltam aplausos
sapateiam em silêncio
sapateiam de pés descalços e sapatos na mão
II
pelos caminhos que rumam à cidadela
há multidões corroídas pela fé
calcorreiam entre os infernos celestes
trilhos que dissimulam o éden
alameda abaixo
alameda acima
arúspices antigos carregam usos mundanos
erguem aplausos
soltam os braços
em silêncio sapateiam
sapateiam descalços de pés e sapatos na mão
(Dedico este poema à aniversariante Gina Pedras)