Segunda-feira, 31 de Outubro de 2005
pode parecer redundante musicar um poema
porque a poesia é redundância musical
desnecessária e inofensiva
dispensável e escusada
mas não é
Terça-feira, 25 de Outubro de 2005
do ponto ao traço
da pedra à catedral
a distância
da terra chã
os traços
plano
aprumado
para que os esquadros da cruz se desenhem
e a Pax Profunda dos justos se leia
Domingo, 16 de Outubro de 2005
dito assim parece simples
porque as palavras se despem e humildes
vestem as frases que escrevo no poema
as horas que escrevo na cidade
ainda hoje não sei por que é preciso
explicar tudo
não sei por que vejo os dias quase todos os dias
sentados na falésia à minha espera
acossados pelo fascínio do sal das ondas
iludidos
iludidos
sabes?
nunca me perdi na rua como no tempo
nunca me perdi no tempo como nos instantes
e nunca o acaso me olhou da praia e desejou
que eu fosse alem do destino profundo da espuma
leve
leve
{aos amigos do CORAÇÃO - assim mesmo com maiúsculas - que vão tendo a paciência de me ler}
Segunda-feira, 10 de Outubro de 2005
já é tarde para bater à porta
tarde de mais para entrar
cá de baixo
conduzo os meus olhos à janela
e vejo-a escura de luz
na parede branca
mas se espreitas pela moldura
os teus olhos acendem noite fora o teu retrato
que se debruça
Domingo, 2 de Outubro de 2005
deixa-me acordado no restolho macio
até que o outono encharque os torrões
e a chuva solte o cheiro da terra
assim o sabor da noite é mais sabor