no rasto da praia ainda escuto as madrugadas
quando acordava no escuro e imaginava que alguém
á beira-mar acendia o sol para júbilo dos banhistas
eu fazia o carreiro todos os dias
então como agora os atalhos eram muitos
mas todos acabavam num areal interminável que eu pisava
ligeiro como as coisas mais leves a caminho da água
que me recebia dentro e me abrigava do calor
é por isso que não tenho parelhas e montes como diz a canção
cada um tem aquilo que julga que tem
eu o rasto da praia o caminho da água
mais a circunstância da vida
que pode até nem ser nada que se possa ter
quando me sento à janela
uma claridade perfumada inunda
cada letra
cada palavra
cada frase
e toda a conversa que te escrevo
linha a linha
os meus dedos conversam contigo
sem que dês por isso
e nem mesmo o silêncio das tuas respostas
me fazem crer que no futuro
num dia incerto
guardarei de vez as palavras comigo
escriba serei sempre
mesmo que as linhas não se estendam como dantes
paralelas
equidistantes e negras nas folhas de papel