I
encostei-me à entrada.
olhei para cima e vi projetadas no azul celeste
as barras firmes do portão.
como são altas, férreas e sólidas!
está fechado a sete chaves, pensei.
e eu aqui esquecido,
nos passos perdidos do paraíso.
II
não sei de nada.
ousarei as rimas que ouvi, cantadas no sul e a leste
pelas cigarras no lume do verão.
ouço-as tão cálidas,
térreas e pálidas!
vão assustadas no ventre das aves, pensei.
e tu ali, de braços estendidos,
indecisos.
imagem: ZP_Cicada from Borneo_© photographer Alex Hyde
está fora de moda o silêncio,
mas é bom estar calado.
penso assim porque a solidão,
filosofias à parte,
ladra-me como um cão de fila e diz-me
que fuja, das brigas e dos abutres
como o profeta do toucinho e o diabo da cruz.
sim.
se há assunto que não podemos deixar
entregues aos filósofos, assim
sem mais nem menos,
o silêncio e a solidão são dois
e julgo que há mais.
eu, deixem-me que vos diga,
não sei se estar só é estar sozinho,
porque estar sozinho é estar
numa solidão mais pequenina
do que estar só.
e depois, a beleza da solidão
está na intimidade das coisas belas,
que são belas porque são íntimas.
e o que sabem os filósofos
da minha intimidade?
tanto quanto eu sei das suas razões
que às vezes até se encontram com as minhas.
. Frágil
. És louco
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