Encasacado,
encostou a cabeça à porta
e deu-lhe três cabeçadas, ao de leve.
Retirou do bolso o relógio e conferiu:
eram quinze e trinta.
Rodou a chave e saiu asinha
para a rua gelada.
Olhou para a negritude do céu
e concluiu que o passeio seria curto e frio.
E na breve caminhada que fez pela cidade
todos acertaram o relógios à passagem de Herr Kant.
Às quinze e trinta e um, o barbeiro da esquina
suspendeu a navalha e olhou para o cuco
que se escondeu depois da cantoria.
Às quinze e trinta e cinco a dona da casa de chá,
que ajeitava as iguarias na vitrina,
curvou a cabeça à passagem do filósofo
e bateu com os queixos na torta de laranja.
E lambeu-se, sorridente.
Às quinze e quarenta começaram a cair
gotas grossas, grossas gotas de chuva.
A intensão do passeio era muito boa
mas era imperioso regressar.
E Herr Kant pensou e decidiu,
asinha, caminhar de regresso ao lar.
E nunca mais as horas foram as mesmas!
Os relógios ficaram à sorte
e no resto do quarteirão
o tempo ficou incerto,
de cama, com o filósofo da razão à morte.
“O céu estrelado sobre mim
e a lei moral dentro de mim.”
A que horas, Herr Kant?
. Perto
. Frágil