no banho Marilyn escutava os contornos
das linhas curvas e o timbre da própria voz
sem o baton escarlate
sem o blush marmóreo
sem os finos saltos altos que não a deixavam ficar
em bicos de pés no banho
a estrela ficava despida e até se julgava
uma mulher vulgar
um meteoro sem história
mas quando se vestia toda de branco-marfim
o ar quente exalado pela grelha
do subway de New York levantava-lhe a saia
dos pecados
e sabia-se que eles moravam ali mesmo
e não ao lado
foi quando na Broadway os anos eram de perfume
e os dias lavados com a essência de Chanel Number Five
e as horas com a flagrância de Rose Geranium
. Frágil
. És louco
. Grito eu
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