tranquila, muito serena e a recato estava
doutros animais a redonda e gentil galinha.
e seu dono que ao lado do galinheiro tinha
animais de pelo, reunidos em manada,
tranquilamente seu espirito mantinha
e, dia fora, outros rebanhos guardava.
pertinho da capoeira, à solta quase sempre,
um coelhinho branco de pelo e de orelhas,
farto de privar com três dúzias de coelhas
caiu de amores pela galinha, perdidamente.
e num daqueles dias mornos de primavera
em que os corpos pedem festa e muito calor,
de penas e bico ao vento estava a galinha
quando afoito e veloz lhe saltou asinha
o coelho tresloucado, que nem uma fera:
-Óh loucura! Óh tardio amor, insano desejo!
vinte dias depois após noite de cacarejo
sem dor, em boa hora, sem mágoa nem alaridos,
deu a galinha à luz dez ovos de Páscoa, coloridos.
(Aos meus amigos foliões de Torres Vedras)