Não desisto!
Conduziram-me pelo braço ao muro
e ali fiquei.
A impotência tinha-me tolhido a vontade
e viver assim deixava-me envergonhado.
Não me vendaram porque não quis.
Queria fitar os olhos dos meus algozes,
ver neles o medo, porque os senti medrosos.
À ordem do oficial um jovem imberbe
colocou a arma ao ombro e saiu do pelotão.
Dirigiu-se a mim e colocou-me de costas,
voltado para a parede.
O muro era branco e eu não suportava tanta Luz.
Reparei que a cal mascarava sangue
e que as fendas do muro sombreavam
a claridade, como crateras.
Na cal salpicada de riscos de sangue
vi tudo quanto tinha visto,
como se abrisse o diário que nunca escrevi.
Cerrei os olhos e aguardei pelo fim.
Antes da ordem, a sombra do jovem imberbe
soçobrou e ajoelhou-se com ele.
Ergui o punho e disparei a Palavra:
Fraternidade!
Fraternidade!
Fraternidade!
E o branco tingiu-se com o meu sangue.
Mas não desisto!
Imagem: Luísa Rivera - 100 anos de solidão
. Frágil
. És louco
. Grito eu
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